Tocadores de qualquer coisa e outras espécies em extinção
Charles Darwin publicou a
primeira edição da Origem das Espécies em 1859 onde expõe a Teoria da Evolução
com base na seleção natural, ou seja, a Natureza favorece os mais aptos. Mas
somente na metade do Século XX sua teoria foi finalmente aceita pela comunidade
científica!
Nestes últimos cem anos a
Administração de Empresas foi se estruturando com teorias de valores
incontestáveis: a Administração Científica de Taylor, a Produção em Massa de
Ford, a Produção Enxuta de Taiichi Ohno, a Vantagem Competitiva de Michael
Porter, a Teoria das Restrições de Goldratt, e tantas outras, que permitiram que
mais consumidores tivessem acesso a mais serviços e bens de consumo.
Para que isto tudo aconteça
existe a figura do Gerente que age com base nestas teorias, para motivar
equipes, reduzir tempos, aperfeiçoar processos, baixar custos, encurtar o tempo
de respostas (eficácia), enfim, produzir mais com menos (eficiência).
No entanto, convivendo com os
gerentes há a figura do tocador de qualquer coisa, aquele ser estressado, que
trabalha com dois ou três celulares, quebra todos os galhos, tem iniciativa,
tem certeza que na prática a teoria é outra e sai rompendo tudo e todos, na
busca de resultados, que estão sempre com os prazos, custos e a qualidade
estourada.
Causa-me espécie quando encontro
um colega que me diz que está tocando uma obrinha. Ele não gerencia uma obra,
ele toca uma obrinha. Repórteres ainda usam o verbo tocar como sinônimo de
gerenciar. Políticos em entrevistas citam empreendimentos e programas que são
tocados. Sempre que ouço o verbo tocar me vem à imagem bucólica de um boiadeiro
tocando sua boiada numa estrada empoeirada, como naqueles versos de música
sertaneja. Até estas imagens estão desaparecendo, imagine os tocadores de
qualquer coisa.
Há gerentes que infelizmente não
gerenciam seus projetos e negócios, apenas os tocam, por desconhecerem os preceitos da
nobre arte de gerenciar. E alegar desconhecimento na Aldeia Global de Andy
Warhol é quase injustificável.
Nesta selva administrativa e
econômica ouvimos os últimos estertores dos tocadores de qualquer coisa. Esta
agonia é e será lenta. Ainda teremos que conviver por um bom tempo com esta
espécie em nossas organizações. As transformações não ocorrem em saltos como
dizia Marx, mas contínua e lentamente como dizia Darwin.
Só nos resta contribuir para
acelerar este processo valorizando os gerentes firmes e justos, que confirmam a
teoria na prática e acreditam no planejamento, no monitoramento e controle,
mesmo convivendo com pessoas que vão demandar mais cinquenta anos para aceitar
estes conceitos.